terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

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Sinto-me inquieta. Ainda penso no Daniel. Tenho tido sonhos com ele... Ele beija-me e eu deixo, e perdoo depois de tudo o que ele fez.
Encontrei-me com ele numa festa da Superior. Ele estava com o Filipe (quem diria!). Ambos, que nem cães, fugiram com o rabo entre as pernas.
Passado uns dias, semanas talvez, voltei a encontrá-lo na Gulbenkian. Baixou a cabeça e nem olhou para a minha cara... (Pudera! Também eu teria vergonha.) Trazia o casaco que lhe ofereci...
Agora, passado um ano e pouco tenho coisas para lhe dizer. Diria assim:

-Tenho pena. De ti e de mim. Imagino que sejas muito infeliz, visto que provavelmente não assumiste a tua sexualidade. Portanto vives numa caixa. Nessa caixa não possuis nada a não ser o Filipe, aquele que eu achava ser um irmão para mim. Tu de tão frio que és, secalhar só estás com ele para usá-lo, já que não tens mais ninguém. Não tenho pena, ele merece.
Sinto vergonha. Fui um acessório para ti durante muito tempo. Demasiado. Não precisavas de nada mais sem ser dinheiro e um disfarçe. Vivi numa cegueira. Perdoei quando me traíste com os meus dois amigos... Os mais próximos! Rebaixei-me quando me deitaste fora. Agora, tenho pena de mim por não conseguir perdoar-te, por guardar tanto rancor de ti. Irrita-me teres tido tudo tão bem planeado. Fizeste contas até ao último pormenor. Desde o contrato da casa, passagens de avião, até ao dia exacto em que me rejeitaste. Fiquei desamparada e sem opções - tive que viver contigo. Dois meses. Tentaste bater-me, lembras-te? És tão apático... Como é que é possível? Eu sei que não és feliz. Pessoas como tu não são felizes. Vivem para sempre dentro da caixa até ela apodrecer e caír aos bocados.
Eu hei de ser muito feliz.
Tornaste-me mais fria. Não deixo nenhum homem aproximar-se de mim, encontro sempre uma desculpa para afastá-lo. Há quem me diga: "Criaste defesas". Eu não sei, mas tu... tu tiraste-me algo de extremamente importante, e eu não sei o que é. E sendo assim, não consigo obtê-lo de volta.

Também tenho coisas a dizer ao Filipe. Talvez, entre os dois, foi o que mais me magoou.

-Não sei se és pior que o Daniel, ou se simplesmente não passas de triste e egocêntrico.
Lembras-te quando nos conhecemos nas escadas do Conservatório? Tão pequeninos!... E passado anos eu ia no Natal a tua casa? A tua mãe cozinha tão bem! A D. Rita... Aquela mulher tão doce, que ainda este Verão mandou-me mensagens com ameaças. Não sei que histórias é que lhe disparataste, mas a pobre coitada não tem mesmo noção do tipo de pessoa que criou. Desceste tão baixo... Era de esperar. Sempre soube como é que eras, mas eras um irmão - tinha que te amar. Nunca me passou peça cabeça que me podias magoar. Lembras-te da passagem de ano de 2010-11? Disseste-me: "sou gay" e fiquei feliz por ti. Tinhas um namorado e tudo. Meio ano depois excluíste me da tua vida.
O Daniel deixou-me, e tu nem quiseste saber se estava bem. Viraste-me as costas. Encontrei-vos juntos. Felizes. Nem tinha passado um dia... Quando te perguntei, disseste que era tudo da minha cabeça. Nenhum de vocês, tristes, soube dizer-me na cara que estavam juntos. Deitaram-me fora. Ao mesmo tempo. E quando te parei de falar, revoltaste-te comigo. Como se tivesses razão!
Tenho uma confissão a fazer.
Já vivia eu com o Daniel em Lisboa, fazia dois meses desde que ele acabou comigo, (Portanto como podes imaginar a mudança não foi doce para mim) quando fiz algo que provavelmente não devia ter feito. Algo mesquinho, a teu nível. Precisava de saber que não estava maluca, de saber se estava a estragar a amizade contigo por imaginar que tu e ele estavam juntos, ou se de facto era real. Foi de manhã. Ele saíu de casa para correr. Esqueceu-se das chaves e deixou o telemóvel a carregar. Sentei-me na cama dele, e respirei fundo. Li as vossas mensagens. Podiam ser o guião do próximo filme de pornografia homosexual nacional. Uma semana depois mudei de casa.
E tu, que nem personalidade de um insecto tens, ainda tentaste vingar algo, nem sei o quê. Criaste um Facebook falso e mandaste uma mensagem repleta de mentiras à minha mãe. Já tinha passado mais de um ano. Foi fácil descobrir que foste tu.
Porquê? Não percebo, porquê?
A minha mãe acredita em mim. Sabes, ela conhece-me. Sabe quem é que eu sou. Tentaste difamar-me passado tanto tempo... só porque não te conforta o facto de saber que eu estou bem. Saber que tenho amigos, que de longe são muito melhores do que tu alguma vez foste, pessoas que não são como tu, que me amam pelo que sou, e não porque precisam.
Era a tua inveja... a vontade de querer o que eu queria... sabes?!
Roubaste-me muita coisa, tu sabes que é verdade... Objectivos, sonhos, gostos... namorado! enfim.
Mas ambos sabemos que nem chegas aos meus calcanhares. És triste.
Mas também não tenho pena nenhuma de ti.

Não interprétem de forma errada. Precisei de tempo, antes que conseguisse falar. Há quem demore meses, e eu demorei dois anos (quase...) para esquecer.
 Hoje, só escrevo porque preciso de falar disto, preciso de expor... Porque tenho dois traumas - o Filipe e o Daniel. 


 


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